O Imigrante, Capítulo I

- I -

TURQUIA – 1914 – Estreito de Dardanelos – 1a Guerra Mundial.

Caia a noite. O céu se iluminava pelo clarão dos canhões ensurdecedores, e as bombas que se sucediam próximo à costa Turca.
Os Poucos gregos que ainda restavam no estreito, ou eram mortos e perseguição pelos turcos, ou feitos prisioneiros de guerra, tentando defender suas terras e famílias. Tinham suas casas saqueadas e queimadas, seus animais mortos e todo o seu cultivo exterminado pelo fogo. As crianças corriam de um lado para o outro ou choravam desesperadamente diante de seus pais mortos. Nada restava-lhes, a não ser fugir ou procurar abrigo.
Um casal abraçado a duas crianças fugiam do pequeno sítio onde moravam, corriam em direção à praia pois os turcos, não tardavam. Junto a eles um amigo implorava-lhes: - Não voltem, os turcos não terão piedade se os encontrarem . – Aristos, preocupado em abrigar as crianças não se importava com a preocupação do amigo Elias. Bom amigo, mas não deixaria tudo que conquistar com tanto esforço e trabalho através dos anos, na mão dos turcos. Ah! Isso não.
Elias, agradeço a sua preocupação, mas preciso voltar, cuide bem das crianças e olhe por Lia, minha esposa. Nisso sua esposa o
agarrou pelo braço, e parou dizendo:
- Aristos, não deixarei que volte sozinho, irei com você .- Seu esposo deixou a menina que carregava no chão, cansado e ofegante, já próximo à praia – Mas, e as crianças...? Ela então respondeu, olhando com carinho para o amigo de tantos anos.
Elias cuidará bem delas, tenho certeza, como se fosse seus filhos que não teve.
- Se abraçaram, com lágrimas nos olhos. Elias não se continha e
chorava também. Sabia que não os veria nunca mais. As crianças chorosas se despediam dos pais que não suportarem a idéia de deixá-los, mas ambos sabiam que o amigo zelaria por elas, morrera se fosse preciso.
Aristos abraçou os menino, pegou a pequena nos braços mais uma vez, e olhando- a dentro dos olhos e disse-lhe:
Garifalia, preste atenção no que o papai irá dizer: haja o que
houver...Aconteça o que acontecer, se o papai e a mamãe não retornarem, nunca se deixem levar pelos turcos, eles são muito maus. – A menina com os olhos encharcados de lágrimas, porém atentos ao que o pai lhe dizia, ouvia com atenção . – Lembrem-se, morram se for preciso, atirem-se ao mar, mas não se façam prisioneiros, Beijou a filha e a depositou no chão, - Voltarei logo.
Elias, muito obrigado amigo. – Disse Aristos , abraçando seu fiel e
bom companheiro. – Sei que zelará pela segurança de meus filhos.
Aristos, sabes que se voltares para pegares o que é teu podes ser
morto, sabes disto, não? - Elias então respondeu, com amargura e um misto de ódio no olhar. - Sei também que não posso deixar que esses malditos turcos façam o que querem de nós, nossas terras,
mulheres e nossos filhos. Ah! Isso não!! Nem que eu tenha que morrer, que eu dê o meu sangue.- Disse com raiva , os olhos amendoados brilhando de rancor, e empunhando as mãos, com força.
Despediram –se . Pois tinham que se afastar dali antes que alguém os visse. Temiam pelas crianças. As crianças, uma menina com 7 anos, de olhos cinzentos e melancólicos, de pele e cabelo muito clara. Franzina, porém saudável. Dois garotos , um com 11 anos, moreno claro e esguio de olhar sonhador, já se sentindo totalmente responsável pela irmã pequenina e indefesa, e o outro com idade já para a guerra. Stavros, um belo rapaz de olhos claros e também moreno como o pai, beirava os dezesseis anos e sua intenção de era o de se alistar junto aos aliados.
A mais nova chorava e o irmão mais novo abraçava-a como se quisesse protegê-la , tentando acalma – la dizia:
- Não chore neném, o babá e mamã, logo voltarão e tudo ficará bem. Vamos que o tio Elias nos chama.- Já mas calma a pequena corria junto aos irmãos em direção ao tio que tinha muita pressa, pois urgia em esconder as crianças num lugar seguro, junto à praia.
Correram até ao ancoradouro, um porto pequeno onde os pescadores da aldeia de Smirna, guardavam seus barcos. Como também era um pescador, Elias sabia que ali era o melhor lugar para se esconder as crianças que logo seriam órfãs, disso ele tinha certeza.
Entre tantos barcos, havia um já sem utilidade, nem mesmo para os turcos. Pois se encontrava com pequenas rachaduras, e a madeira já apodrecida pelo passar dos anos. Era perfeito, ninguém sonharia sequer em erguer um barco tão grande e velho, carcomido pelo tempo. Conseguiu com a ajuda dos meninos erguerem um pouquinho o barco que estava emborcado de cabeça para baixo na areia . – Prestem atenção! –Disse então Elias às crianças : - Vocês entrarão aqui embaixo e haja o que houver, mas por nada deste mundo deverão sair daqui. Ficarão debaixo do barco como um esconderijo, entenderam? – Os pequenos assentiram assustados, como os olhos arregalados, mas já passando para debaixo do barco. – Se quiserem ir ao banheiro, façam aqui mesmo. Tem bastante espaço para os dois. Creio que dá até para engatinharem se precisar. Voltarei logo com alimentos e cobertores. Não saiam daqui, até logo crianças.
- Tio Elias, por favor não demore muito ? – Pediu a pequena. –
Elias a olhou com carinho e sorriu, dando-lhes adeus . Virou novamente o barco emborcando- o para baixo. Esperava que dormissem um pouco até que voltasse com os agasalhos. Elias falou-lhes novamente pelas pequenas frestas do barco.
Conseguem respirar? Mimes, Stavros? Respondam crianças. – Sim, respondeu a garota, só que está um pouco gelado aqui dentro .
Elias despediu-se novamente, prometendo - lhes que voltaria logo.
Uma chuva fina e gelada começara a cair. Elias corria em direção à aldeia. Temia pelo seu amigo Aristos .

Comentários

Gostaria que lessem o cap. e me digam o que acham, as opiniões de voces serão bem vindas, um abraço,
Helena.
helenakms@hotmail.com

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